10 agosto 2016

Perfeita imperfeição

Minha relação com a perfeição começou cedo. Já na infância me comparava com outras meninas e achava que elas eram tão melhores que eu. 
Na adolescência a coisa piorou. Queria ter o cabelo perfeito, o corpo perfeito, a voz perfeita, o rosto perfeito. E, claro, nunca era o que eu tinha. Mas sim de alguma atriz de revista adolescente. Não me passava pela cabeça que elas estavam escovadas e com um quilo de reboco na cara. Que elas eram uma montagem. Que aquilo não era realidade. 
Quando cresci um pouco ganhei o maior presente de todos. Terapia. E ali aprendi que perfeição não existe, mas a cultura do perfeito sim. 
Escutamos todos os dias o que é ser perfeito ou não. E nos submetemos a isso. Julgamos nosso ser e o ser dos outros em cima de padrões de perfeição pré-estabelecidos. E que normalmente não são reais, já que uma entre mil nasce alta, magra, cabeluda e coordenada. 
Esses dias uma pessoa me perguntou, meio agressiva, se eu me acho perfeita já que escrevo sobre autoestima e felicidade. Na verdade exatamente porque sei que a perfeição não existe é que escrevo sobre autoestima e felicidade. Para que as pessoas parem de se submeter a cultura da perfeição e saibam ver a beleza, a poesia, no que tem. Que aprendam a valorizar coisas simples como respirar, aproveitar uma companhia e a risada que saiu sem querer. A se valorizar. 
Que não se entupam de porcarias para serem mais magras, mais gordas, que não percam todo o seu tempo pensando em como sua bunda ficaria sem celulite. Que valorizem o que possuem, o que podem usufruir, sem achar que a grama do vizinho é verde menta e cheira melhor. 
Vamos mudar a cultura da perfeição para a cultura da perfeita imperfeição. Todo mundo é meio torto. Devemos evoluir, melhorar, nos cuidar, aprimorar, mas sem que isso gere um processo de angústia e insatisfação contínua. Ou que isso nos afaste da nossa essência, do que somos enquanto seres nascidos especiais e únicos. 
Que parta de nós esse amor por sermos ótimos em nossa imperfeição. Que aprendamos a nos mimar, nos amar, como seres responsáveis por nossa felicidade e qualidade de vida. Não espere que seja o outro a fazer isso por você. 
E dá licença que eu vou continuar falando sobre autoestima e felicidade. Mesmo com celulite na bunda, chorando em desenho infantil, tendo um cabelo com vontade própria e sendo eu mesma. Coisinha amada e imperfeita. 
Ainda bem. 


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